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Canalha Sedutor


Canalha Sedutor - O livro se compõe de segmentos numerados, que vão do prólogo, onde o autor externa os motivos e verdades da sua “canalhice” – longo monólogo poético que se alterna em passagens explícitas e intimistas e se repete de capítulo para capítulo, conforme o jogo temático – até o momento em que se retira de cena, em Canalha Redimido (seg. IX), após ter dançado “todas as valsas / deslizando por cada salão / adornado de aventuras”. E olha para as suas tatuagens, afirmando: “Às vezes é bom revisitar o passado”. (Caio Porfírio Carneiro)

O Enigma da Sedução

Quem conhece a poesia de Lé, como conhecemos, com aquele sopro tênue de lirismo, até quando se vale de tema cáustico, surpreender-se-á com o título desta nova obra – Canalha Sedutor – se não a ler com atenção cuidadosa. Homem voltado ao mundo prático das finanças, envolve-se também com a música e se entrega à arte dos deuses – a Poesia – revelando-nos uma personalidade e uma sensibilidade multifacetadas. Por ser assim, nada neste autor nos surpreende porque, por mais que ele busque fugir, como aqui, das linhas mestras da sua arte escrita, não foge. Não foge porque ele, de livro para livro, já definiu o seu como dizer criador. E, inversamente foge – e isto é o que importa – eis que, ao longo da sua caminhada, tudo se aprimora.

É o caso presente; é o que se vê neste Canalha Sedutor. Tal como confessa ele no prólogo: “Quero ser uno na minha vontade, meu amor e minha paixão”.

O livro se compõe de segmentos numerados, que vão do prólogo, onde o autor externa os motivos e verdades da sua “canalhice” – longo monólogo poético que se alterna em passagens explícitas e intimistas e se repete de capítulo para capítulo, conforme o jogo temático – até o momento em que se retira de cena, em Canalha Redimido (seg. IX), após ter dançado “todas as valsas / deslizando por cada salão / adornado de aventuras”. E olha para as suas tatuagens, afirmando: “Às vezes é bom revisitar o passado”.

O curioso é que ao correr da obra, dos patamares da sua vida, o poeta volta às suas origens, às lembranças da sua caminhada, traz ao vivo retratos de entes queridos ou que ficaram no seu coração. Uma espécie de ressonante contraponto à crença central e maior, ou seja: a Mulher, quase um ícone divinatório, é ímã sedutor que atrai sua presa – o Homem – e nunca o contrário. Mas tudo corre sem fel ou ferrete, em giros amorosos, em cosmovisão ampla de sensualidade, que vai da exaltação à mulher às pulsações diretas e imediatas da união erótica. Ela é mais do que a outra metade da fruta. É a sua aceitação integral por parte do poeta. Nada, porém – o que é bem da linha poética de Lé – que vá à exaltação fácil. O autor domina esse tema eterno – o Amor – com notável segurança, e nunca foge do meio-tom criador.

Faz um jogo lúdico da sua canalhice, pontilhado de musicalidade. Como ele mesmo afirma: “A ti que és acorde / dissonante na canção / da minha vida dou-te / letras para musicar”.

Desnecessário voleio mágico para se notar, ao correr de todo o livro, que a canalhice é uma grande e bela metáfora. “Só quero fazer cada mulher mais feliz”. Através deste elíptico verso o poeta, inversamente, joga aos ventos toda a sua riqueza emocional, que transcende o próprio Amor, por mais que tenha ele dimensão universal. O canalha, em subjacência às confissões expostas, é amorável e dadivoso, no melhor sentido dos termos. Sem que se aperceba, é um “santo canalha”. Quer tudo da mulher, já que ela é quem dá o bote, mas nunca a humilha, nem num fio de cabelo, quando a humilhação é ponto nodal do canalha. É que aqui há uma aura de prece.

Pouco encontramos, na arte poética brasileira, uma “amostragem cênica” assim. Sai-se do livro entre o palpável e o sonho. As mulheres ou a Mulher, da sua sedução à sua presença física, estão tão presentes na vida e nas idealizações do canalha... e estão tão ausentes nas perplexidades dele. “Reprovei-me na arte de ser canalha. / Tudo, somente, por amar de fato”.

Daí a metáfora que arrebata: A sedução feminina não fez do canalha o grande enigma do Amor? O canalha é a dança, a dança amorosa que não é só dele, porque é o eixo do mundo.

Outro destaque desta bela obra: a musicalidade ao correr dos versos, das estrofes, dos poemas. A facilidade com que Lé verseja, com tanto senso de oportunidade, leva, de imediato, vários destes poemas à composição musical. Neste ponto, mantendo sua dimensão própria, Lé filia-se, pelo menos nesta obra, à linha poética de um Vinícius de Moraes ou – pela atração dela ao canalha – à de uma mulher: Cecília Meireles.

Canalha Sedutor é mais um passo na caminhada ascensional deste poeta. Seduzirá qualquer bom leitor que tenha alma e coração.”

Caio Porfírio Carneiro
Secretário Administrativo da
União Brasileira de Escritores (UBE)

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